7 de outubro de 2010

A DOUTRINA DO CHOQUE OU A DOUTRINA DA ESPERANÇA

O documentário que assistirá abaixo foi produzido por Naomi Klein, estrela do movimento antiglobalização desde que escreveu “No Logo”, onde denuncia a cultura do consumismo e as relações de poder entre as grandes corporações e os trabalhadores.
A jornalista canadiana publicou o livro: “A Doutrina do Choque”, onde faz considerações sobre o que chama “capitalismo do desastre”. Para Klein, é essa filosofia da força e poder que determina as relações políticas e sociais dos dias de hoje.
Para defender a sua tese, a autora relembra a terapia do choque, usada pela psiquiatria nos anos 40, que permitia, a partir do uso do choques elétricos em pacientes, “limpar” a mente dos doentes, de modo que pudesse ser trabalhada pelos médicos de maneira supostamente saudável.
Nos anos 50, a CIA, agência americana de inteligência, apropriou-se do método para interrogatório, levando as pessoas a passarem por situações que causassem choques psicológicos.
Na economia, a doutrina do choque é apresentada como uma filosofia de poder que aponta os períodos subsequentes a grandes tragédias, segundo a escritora, como a oportunidade ideal para impor ideias radicais do livre mercado a sociedades em estado de choque com os desastres. Foi assim com o massacre de Tiananmen. Foi assim com o colapso da União Soviética. O 11 de setembro de 2001. A guerra contra o Iraque, O Tsunami asiático. O furacão Katrina em Nova Orleans.
Naomi Klein é uma voz importante na comunidade internacional, muito embora eu fique um pouco inquiento com a sua visão maniqueísta da política contemporânea. Mas o seu raciocínio no documentário abaixo fez-me pensar sobre como a doutrina do choque se aplica com muita frequência à vida religiosa nos dias de hoje. É algo que me afecta directamente por um motivo simples: sou cristão, adventista do sétimo dia, e acredito, portanto, na volta de Jesus. Actualmente, os adventistas estão fazendo um grande esforço para associar esse acontecimento a um futuro com esperança. Fico feliz de ver essa apresentação de modo tão clara e bíblica, devo no entanto reconhecer que há uma franja dentro da igreja que gostariam que a Vinda de Jesus fosse apresentada como “onde de choque de medo” que levasse as pessoas a alterem o modo de vida pelo “choque psicológico”, é importante os dirigentes serem guiados pelos Espírito Santo e não se deixarem manipular por essas franjas. Recordo a conversa que tive com um sacerdote Católico, não há muito tempo sobre algumas doutrinas erradas da Igreja Romana, respondeu com toda a honestidade "se alterassemos alguma coisa o povo não o permitiria". Mal está quando o "rebanho" guia o "pastor", digo eu.
Lamentavelmente, há ainda uma forte visão no Cristianismo moderno que se vale de recursos parecidos com a doutrina do choque denunciada por Naomi Klein. A apresentação da volta de Jesus não está ligada a um recomeço, mas ao fim dos tempos; o Armagedom seduz mais do que o Lar Celestial; o medo prevalece sobre o amor.
A tradição cristã registada na Bíblia é clara quanto ao poder libertador da devoção cristã. O próprio Jesus sentenciou: “Conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará”. Num outro texto, está escrito que “o amor lança fora o medo”. O esforço dos adventistas é apresentar o Cristianismo como um exercício de libertação para um futuro com esperança. A adoração pela conversão é esperança, a adoração pela imposição é inquisição!

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